terça-feira, 31 de maio de 2016

Juventude, estilo de vida X doença.

Dia 31 de maio é o Dia Mundial Sem Tabaco 2010, e em sua comemoração o Doutor Leonardo traz uma série de quatro artigos sobre o tabagismo. Hoje em dia todo o mundo sabe que cigarro causa uma série de doenças, mas mesmo assim o Ministério da Saúde estima que 16% dos brasileiros adultos fumem ativamente. O artigo de hoje é para os outros 84% dos brasileiros adultos, que não conseguem entender como aquele amigo ou parente consegue fumar mesmo sabendo que cigarro faz mal.
O motivo mais simples é a juventude. Sim, o tabagismo está diminuindo também entre adolescentes, mas quase todos os fumantes tragaram o primeiro cigarro antes dos 18 anos de idade. Nessa idade a pessoa é mais propensa a novas experiências, tem mais necessidade de aceitação social, e está criando uma identidade própria. Fica difícil negar um cigarro. No Brasil é proibido vender (ou dar) cigarro a menores de idade, mas todo o mundo sabe que o acesso é fácil. Existe até quem diga que a proibição torna o cigarro ainda mais atraente…
Além disso, quando começaram a fumar, a maioria dos fumantes de hoje também não sabiam que cigarro fazia mal. Na verdade, nas décadas de 30 a 40 os cientistas da Alemanha já tinham indícios dos malefícios do tabaco, mas depois da Segunda Guerra Mundial os americanos varreram esse conhecimento para baixo do tapete como coisa de nazista. Na década de 60, no entanto, já existiam estudos provando definitivamente que os cigarros causavam câncer de pulmão, por exemplo, mas esse tipo de estudo enfrentou uma oposição tão forte da indústria do tabaco que em 1994 as 7 maiores empresas do ramo nos EUA ainda se prestavam a dizer em público que nem cigarro, nem nicotina viciava. (Assista ao vídeo, em inglês.) A situação só foi revertida quando organizações governamentais e não-governamentais começaram a fazer propagandas caras sobre os malefícios do tabagismo.
Algumas características da pessoa também a tornam mais propensa a fumar. Os homens, por exemplo, ainda fumam mais que as mulheres: 20% deles são tabagistas, e só 13% delas. Mas essa diferença está diminuindo, porque existe cada vez menos restrição social ao tabagismo entre as mulheres (deixou de ser tabu), e por motivos pouco explicados os homens parecem ter mais facilidade de largar o cigarro que as mulheres. Além do sexo, a escolaridade também é muito importante. A proporção de fumantes entre as pessoas com pouco estudo é 1,5 a 2 vezes maior que entre as pessoas com mais estudo. Por fim, o local em que ela mora é muito importante. O número de fumantes em Porto Alegre, por exemplo, é mais de 2 vezes maior que aquele em Salvador, em relação ao número de habitantes. O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro onde fica a Souza Cruz, subsidiária da British American Tobacco que domina o mercado brasileiro há mais de 50 anos. A cultura do tabaco usa muita mão-de-obra, geralmente na forma de agricultura familiar, de forma que restrições ao tabagismo (mesmo que passivo) são encaradas como uma ameaça ao trabalho dessas famílias.
Agora sendo sincero, fumar é gostoso. Nunca fumei, mas de tanto ouvir os fumantes falar eu sou obrigado a acreditar. A nicotina é amarga que só, mas, quando chega ao cérebro, ativa a parte do prazer. É o mesmo efeito que outras drogas, como o álcool e a cocaína. Na década de 60 a Philips Morris começou a alterar o tabaco dos cigarros, introduzindo por exemplo a amônia. A amônia aumenta a velocidade de absorção da nicotina dos pulmões (dizem alguns inclusive que fica mais rápido que uma injeção na veia), o que aumenta a capacidade de uma droga causar dependência. Hoje em dia todos os cigarros já usam esse tipo de artifício, basta perguntar a quem fuma há mais de 50 anos para saber se não houve diferença.
Quem tem dependência física de nicotina dificilmente fuma menos de 5 cigarros por dia. Isso porque, cerca de meia hora depois da pessoa ter fumado um cigarro, o organismo começa a eliminar a nicotina, e algumas horas depois quase tudo já foi eliminado. A pessoa pode então sentir dificuldade de concentração, ansiedade, insônia, depressão, aumento do apetite, desconforto abdominal e diminuição do ritmo cardíaco. E mais importante, a pessoa sente vontade de fumar, e sabe que, se fumar, esse sintomas vão embora. A gravidade da síndrome de abstinência varia de uma pessoa para outra, sendo pior principalmente em quem fuma mais de um maço por dia e/ou fuma o primeiro cigarro menos de 30 minutos depois de ter acordado.
Além da dependência física, o cigarro também causa dependência psicológica. À medida que o cigarro se torna algo familiar à pessoa, ela começa a enxergar nele um apoio para as horas de estresse, solidão ou tristeza. Algumas pessoas contam que, sem ter um maço por perto, ficam desesperadas, mas ao conseguir um cigarro, antes mesmo de acendê-lo já se sentem melhor. Um dia conheci, vejam só, um ex-tabagista que passou meses com um maço de cigarros no bolso para lhe dar segurança. O cigarro vira uma espécie de amigo, e já soube até de uma mulher que chamava o cigarro de meu amante.
A terceira forma de dependência é a associação entre o cigarro e determinadas situações. Grande parte dos fumantes, por exemplo, sente uma vontade intensa de fumar (a fissura) quando bebem café, e alguns tomam café quando já estão com vontade de fumar, para fazer boca de pito. Outras situações comuns em que a pessoa pode sentir fissura são as refeições, as relações sexuais, ou o uso de bebida alcoólica. Isso sem contar, claro, com o cheiro da fumaça do cigarro de outro fumante.
Durante séculos as pessoas achavam que o tabagismo era um estilo de vida, e não uma doença. Mas mesmo hoje em dia existem pessoas que usam o cigarro de propósito, para emagrecer. De fato, a nicotina diminui o apetite, assim como o fazem outras drogas como o álcool e a cocaína. Mais ainda, quando a pessoa para de fumar ela ganha, em média, 2 a 4 quilos. Essa quantidade varia de uma pessoa para outra; conheço gente que ganhou 10 ou até 20 quilos parando de fumar, mas também conheço pessoas que emagreceram. O mais incrível, acredito, são adolescentes que já fumavam ocasionalmente e que começam a fumar diariamente para emagrecer. O cigarro estraga dos dentes e envelhece a pessoa, mas cada um tem suas prioridades…
Outro motivo muito comum para a pessoa fumar é achar que parar faz mal. Até faz algum sentido: a pessoa tem 70 anos de idade, e fuma desde os 13, então não conhece outra vida. Pior ainda foi num bairro em que trabalhei. Todo o mundo se conhecia, e um idoso tinha morrido um ano após parar de fumar, então os outros fumantes ficaram ressabiados. De fato, no primeiro anos após parar de fumar, a mortalidade é maior que no grupo geral dos fumantes, mas isso só acontece porque as pessoas esperam ter um infarto ou descobrir um enfisema para resolver parar de fumar. Se essas pessoas não parassem de fumar, iam morrer até mais rápido, mas como elas param de fumar, vão parar nas estatísticas dos não-fumantes. Resumindo, parar de fumar faz bem para todo o mundo, independente de quanto tempo faz que a pessoa fuma, ou de qual idade a pessoa tenha.
E essa lista não estaria completa se eu não incluísse uma das afirmações que eu mais ouço: a dificuldade em parar de fumar. Muitas vezes, simplesmente por não acreditar ser capaz de parar de fumar, a pessoa se convence de que não quer mesmo parar de fumar, numa espécie de autodefesa contra o sentimento de impotência. Um motivo frequente para isso são as recaídas. Um ex-fumante que volte a fumar, ou que não consiga vencer os sintomas da síndrome de dependência, muitas vezes acredita que é fraco, e que não vai conseguir nunca parar de fumar. Na verdade, é bem pelo contrário, mas vou deixar para comentar o assunto nos próximos artigos.
Como eu disse acima, esse artigo foi escrito principalmente para os não-fumantes entenderem a cabeça dos fumantes. Mas, se você for fumante, por favor não se acanhe: deixe um comentário abaixo descrevendo os motivos que você percebe como mais importantes para você continuar fumando. E aproveite para enviar este artigo por e-mail, ou twitter, para aquele amigo ou parente seu que vive querendo mandar você parar de fumar.
http://leonardof.med.br/2010/05/10/10-motivos-para-fumar/

domingo, 29 de maio de 2016

A triste geração que virou escrava da própria carreira.

Era uma vez uma geração que se achava muito livre. 
Tinha pena dos avós, que casaram cedo e nunca viajaram para a Europa.
 Tinha pena dos pais, que tiveram que camelar em empreguinhos ingratos e suar muitas camisas para pagar o aluguel, a escola e as viagens em família para pousadas no interior. 
Tinha pena de todos os que não falavam inglês fluentemente.

Era uma vez uma geração que crescia quase bilíngue. Depois vinham noções de francês, italiano, espanhol, alemão, mandarim. 
Frequentou as melhores escolas.
 Entrou nas melhores faculdades. 
Passou no processo seletivo dos melhores estágios.
Foram efetivados.
Ficaram orgulhosos, com razão. 
E veio pós, especialização, mestrado, MBA.

Os diplomas foram subindo pelas paredes. 
Era uma vez uma geração que aos 20 ganhava o que não precisava. 
Aos 25 ganhava o que os pais ganharam aos 45. 
Aos 30 ganhava o que os pais ganharam na vida toda. 
Aos 35 ganhava o que os pais nunca sonharam ganhar. 
Ninguém podia os deter. A experiência crescia diariamente, a carreira era meteórica, a conta bancária estava cada dia mais bonita.

O problema era que o auge estava cada vez mais longe. A meta estava cada vez mais distante. Algo como o burro que persegue a cenoura ou o cão que corre atrás do próprio rabo. O problema era uma nebulosa na qual já não se podia distinguir o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o que era ambição, o que era ganância, o que necessário e o que era vício. O dinheiro que estava na conta dava para muitas viagens. Dava para visitar aquele amigo querido que estava em Barcelona. Dava para realizar o sonho de conhecer a Tailândia. Dava para voar bem alto.

Mas, sabe como é, né? Prioridades. Acabavam sempre ficando ao invés de sempre ir. Essa geração tentava se convencer de que podia comprar saúde em caixinhas. Chegava a acreditar que uma hora de corrida podia mesmo compensar todo o dano que fazia diariamente ao próprio corpo. Aos 20: ibuprofeno. Aos 25: omeprazol. Aos 30: rivotril. Aos 35: stent. Uma estranha geração que tomava café para ficar acordada e comprimidos para dormir.

Oscilavam entre o sim e o não. Você dá conta? Sim. Cumpre o prazo? Sim. Chega mais cedo? Sim. Sai mais tarde? Sim. Quer se destacar na equipe? Sim.

Mas para a vida, costumava ser não: aos 20 eles não conseguiram estudar para as provas da faculdade porque o estágio demandava muito. Aos 25 eles não foram morar fora porque havia uma perspectiva muito boa de promoção na empresa. Aos 30 eles não foram no aniversário de um velho amigo porque ficaram até as 2 da manhã no escritório. Aos 35 eles não viram o filho andar pela primeira vez. Quando chegavam, ele já tinha dormido, quando saíam ele não tinha acordado.

Às vezes, choravam no carro e, descuidadamente começavam a se perguntar se a vida dos pais e dos avós tinha sido mesmo tão ruim como parecia. Por um instante, chegavam a pensar que talvez uma casinha pequena, um carro popular dividido entre o casal e férias em um hotel fazenda pudessem fazer algum sentido.

Mas não dava mais tempo. Já eram escravos do câmbio automático, do vinho francês, dos resorts, das imagens, das expectativas da empresa, dos olhares curiosos dos “amigos”. Era uma vez uma geração que se achava muito livre. Afinal tinha conhecimento, tinha poder, tinha os melhores cargos, tinha dinheiro.

Só não tinha controle do próprio tempo. Só não via que os dias estavam passando. Só não percebia que a juventude estava escoando entre os dedos e que os bônus do final do ano não comprariam os anos de volta.

RUTH MANUS

sábado, 7 de maio de 2016

SOMETHING IS BETTER THAN NOTHING ?

That is the question.

Não
Não
E não.

Nada é melhor. Se este algo não soma,
Porque se não soma e não diminui, NADA é igual.
E se só diminui e não soma, é PREJUÍZO.
Agora... este algo a longo prazo pode te oferecer mais?
Porque 'something' talvez possa te alimentar...
Nada não...


Mas posso preferir o nada, do que comer merda.

Think About it.